20 de fevereiro de 2013

Mais um brilhante ensaio com a chancela do Capt. Paddock




Ensaio Sobre a Caganeira

[Prolegómenos de navegação marítima]



Com um embrulho retórico típico de notícia encomendada, fomos informados pelo rodapé de um canal de televisão que “Joana Vasconcelos vai para Veneza de barco”, mais concretamente, um cacilheiro decorado pela artista. Ao ver apenas o cabeçalho a passar em rodapé, julguei a que a pobre coitada tinha chegado a um ponto em que já não cabia nas cadeiras do avião e tinha de ir de barco. Mas depois, ao assistir à notícia na íntegra - porque eu às vezes também perco tempo com inutilidades - verificou-se que não é nada disso: a artista está bem e recomenda-se e a viagem de cacilheiro até Veneza é uma “intervenção artística”. A artista propõe-se decorar um cacilheiro com sugestões de temas portugueses e atracar o barco em frente à zona onde estão grande parte das galerias de arte venezianas. Ficámos também a saber que no interior do barco vão estar à venda artigos portugueses “da loja da amiga Catarina Portas”, enfim, artístico, muito artístico. Se a artista fosse amiga de uma peixeira teríamos carapau à venda durante a viagem, mas cada um tem os amigos que tem. Pondo de parte a excursão – cada um vai de barco para onde quer e eu estou-me a cagar para isso – vamos ao motivo da encomenda da notícia: o financiamento. Parece que a artista ainda não arranjou o guito necessário para pagar a “obra de arte total” (ela disse isto sem se rir) e, como tal, está disponível para aceitar financiamentos e “estabelecer parcerias”. Os sabonetes “da amiga Catarina Portas” não chegam para pagar o gasóleo e os cacilheiros não andam à vela.

Uma das principais razões – não a única – para a generalizada falta de qualidade da maioria da criação artística em Portugal é a ausência de escrutínio sério, efectivo e informado, como eu já tive oportunidade de informar os mais incautos que acreditam em tudo o que lhes dizem e não me consultam sobre estes temas. Falta de escrutínio por parte de uma crítica que é quase sempre um grupo de amiguinhos que param nos mesmos sítios em que param os artistas. Falta de escrutínio por parte de um jornalismo que seja mais do que copy/paste da wikipédia, embrulhado com floreados pretensiosos e desinteressantes. Falta de escrutínio por parte de universidades e escolas que mais não são do que centros de recrutamento para as várias capelinhas de artistas arranjarem quem lhes dê graxa aos sapatos.

Porque não me apetece discutir com argumentos, basta-me apenas dizer isto: quanto mais exigente for o público, a crítica e a academia, mais qualidade terá a criação artística. Mas também mais difícil será o triunfo: é muito mais difícil ser pintor em Nova Iorque ou músico em Londres, do que em Lisboa, por exemplo.

Não havendo esse sentido crítico informado, abre-se campo a toda a panóplia de parvoíces a fingir que são arte, domínio no qual Joana Vasconcelos é perita. Elogia-se a caganeira, poetiza-se a bosta, vende-se a falta de qualidade como o último grito da moda. Basta dar um embrulho teórico, palavroso e pretensamente poético àquilo que não presta para daí fazer arte, recurso bastante utilizado por tudo aquilo que é jovem artista plástico com ambição a carta de alforria artística. Se um gajo qualquer colocar azulejos na parede de uma moradia na Charneca da Caparica é um bimbo está a cometer um atentado ao bom gosto. Se um artista forrar o convés de um barco com azulejos e pendurar panos bordados, é uma “intervenção artística”. Estão a ver?

E por isso eu lanço um alerta sentido e vindo do fundo do coração: não basta cantar musiquetas pseudo-revolucionárias quando políticos analfabetos lêem o que os assessores lhes escreveram na véspera. Temos que gritar bem alto esse pertinente provérbio: o rei vai nú – calma a Vasconcelos não apareceu nua, felizmente, foda-se - e reafirmar que não é artista quem quer e que as bodegas destes artistas financiados por especuladores bolsistas analfabetos são uma bosta, uma diarreia cuja existência não devia depender do dinheiro dos impostos que por via, umas vezes directa, outras indirecta, alimenta esta máquina de produção de esterco. Mil vezes um cacilheiro abandonado num cais esconso do Alfeite a estas brincadeirinhas de saloios a armar ao artista.

Viva Grândola! Viva Santiago do Cacém! Viva o Cacém! Viva o Relvas, o Zé Cabra e todos os gajos que cantam sem desafinar!

A revolução é uma comichão: um gajo coça e ela passa.

24 comentários:

  1. Nunca tinha vindo aqui. Li esta merda. Pensei:" Este gajo é do Sporting". Só não ganho o totoloto.

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  2. pela posta do Tolan e o habitual harém de comentadoras (do Tolan), estamos a perder a "guerra"

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    1. Nada disso, AM: cada um daqueles comentários amanteigados é um ponto na minha caderneta.

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  3. E andei eu um ano a ler o Tolan. Foda-se.
    R.

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  4. hahahahah
    AM,
    Fui ler o depoimento do Tolan (é amoroso):)impressiona-se com Versalhes :)))

    hahahahahahh

    Muito bem capt.

    tal e qual a Joana está para a arte como o peixoto está para a literatura :)

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  5. a revolução é uma micose
    quanto mais coça mais s'espalha

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  6. Foda-se, pró caralho.

    AM, Silvia etc mais a puta da conversa das "comentadoras do Tolan" caralho vos foda. E tu também R. que deves ser outro R. qualquer que não o meu fiel R. chanfrado.

    Outra vez essa merda? Não têm outros argumentos? Vir com a merda dos "harém de comentadoras" é mesma merda de chamar gorda à Vasconcelos. Foda-se. Vocês são umas comadres, parecem aqueles velhos dos marretas ou as irmãs da Marge dos Simpsons, todos amargurados e ressentidos. foda-se. Eu falo no caralho de versalhes porque foram 1,6 milhões e é o "tolan impressiona-se com versalhes". Vão-se foder. Não confio em vocês, acabou-se. Smileys para aqui e para acolá, amor da causa e depois é esta merda. Isto para mim era um debate engraçado, só isso. Mas para vocês, que não têm argumentos, uma é gorda, o outro tem "o harém", é uma guerra e o caralho etc. etc. o alf que vos ature.

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    1. Tolan, desafio-te a colocares isto no teu blog. Priceless!

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    2. Tu é que não tens argumentos e por isso mandas para o caralho e dizes que estás com os copos.

      Quando estiveres sóbrio vais olhar melhor para os números e vais finalmente perceber que esses 1.6 milhões incluem os visitantes de Versailles que nem sabiam que lá havia uma exposição de uma escultora portuguesa.

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  7. e ya, tou com os copos. no meu harém motherfuckers.

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    1. Só fico fodido contigo por não me teres convidado.

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    2. Tolan,
      Não fiques assim :)
      por hipótese já pensaste que Versalhes deve ser dos sitios com mais visitantes :))) Com ou sem Joana :)


      http://www.aeonmagazine.com/world-views/roger-scruton-fake-culture/

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  8. Isso foi um golpe baixo Tolan...
    Quem mais tem uma pretinha?!
    Copos não se convida ó Paddock, dás com eles!
    R.

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  9. Tolan,

    Como alguém escreveu lá no teu blog o Pinault (que investe dinheiro:) é um dos patrocinadores destes embustes no mundo da arte :)

    Um dos maiores responsáveis foi o Saatchi (galerista que tinha alguma novidade por aliar o embuste o macabro e outras coisas mais ) :) depois de fazer bastante dinheiro a gozar com a ignorância agora é um dos maiores denunciadores ao dizer que a arte sofre um dos maiores embustes de sempre :)))Se isto não é arte !!!

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  10. silvia, imprimi :)))
    ia a meio da (deliciosa) leitura quando fui interrompido :)))
    o Scruton é um senhor :)))
    prometo retomar a leitura do enççaio logo que a amargura e o ressentiemnto o permitam LOL :)))

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  11. ressentimento :))) foda-se que mais pareço a nazie LOL :)))

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  12. amargurados de todo o mundo! :)))

    http://www.obelogue.blogspot.pt/2013/02/um-imenso-cafarnaum-um-dia-os-meus-pais.html

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  13. Caramba! Foi um tirar a barriga de misérias (de brioches já tinha tirado). Mas ler, sem ter de pesquisar, tudo juntinho, tanta imbecilidade, tanta raivinha, tanto palavrão, isso é um privilégio raro!
    Pronto, não gosta de cacilheiros. Agora posso eu dar uns palpites? Primeiro: não se fazem comentários sobre o peso de uma Senhora. Imagino-o a dizer 'Senhora? Qual Senhora?' Acertei em cheio, confesse lá! Segundo, os carapaus, foi mesmo falta de lembrança. Terá de reconhecer que não há obra de arte que chegue aos calcanhares de uns jaquinzinhos fritos...(a seguir vou rever a minha zoologia, por causa dos mencionados calcanhares). Depois os sabonetes Confiança, as colónias Ach Brito, os lápis Viarco, são um furor, por exemplo, em Viena, a de Áustria, com e. Eu sei que os austríacos nem sempre são de fiar, mas não podem ser acusados de ter mau gosto...Fiquei surpreendida, achei que por exemplo os lápis Viarco seriam para si o material artístico pó excelência. Nada de rendas ou panelas. Lápis de cor para fazer casinhas com uma porta, duas janelas, um telhado, uma chaminé...não sei se uma antena de televisão....
    Eu, pela minha parte, nunca mais vou gostar ou detestar seja o que for sem primeiro ler o que Vocência entender. Mesmo que Vocência discuta sem argumentos, argumente sem discussão, como lhe aprover!
    Só para eu ficar descansada, não posso deixar de lhe recomendar uma visitinha a um médico de tripas. A sua insistência no vocabulário escatológico, pode querer dizer alguma coisa...para além de dar ao leitor a sensação de estar sentado no balneário da junta de freguesia....
    Importa-se que cite aquele brilhante aforismo com que acaba sobre revoluções e comichões? Ficava-lhe grata.
    Atenta, veneradora e obrigada
    Paula Passos de Gouveia
    Ps. Oh diabo! Isto é só um prolegónomo.....

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