29 de novembro de 2012

Há bons livros publicados em Portugal no séc. XX; não são muitos mas ainda são alguns

 
Enquanto o alf prossegue a sisífica tarefa de mostrar às pessoas que há livros bons, livros maus, escritores que vale a pena ler, escritores que não vale a pena ler, escritores que não sabem ler e, até mesmo, escritores que não sabem escrever, eu cumpro o meu papel deixando aqui a sugestão de um grande livro agora reeditado.

24 de novembro de 2012

Do que nós precisamos é de uma central sindical do bom senso, de uma CGTP que marque muitas greves gerais contra a palermice

Os que acompanham a minha actividade de cronista desde os tempos em que eu usava bibe com o emblema do colégio de freiras onde iniciei a minha fulgurante carreira de filósofo especializado em assuntos que interessam às pessoas e aos economistas, estarão certamente lembrados que a minha posição sobre a União Europeia é vertical e se pode resumir a dois aspectos que eu passo a enunciar por tópicos:

a) é uma instituição que se limita a alimentar-se a si própria sem qualquer benefício útil (60 e tal cêntimos por dia, a cada europeu, é o que custa esta estrutura cujo objectivo é justificar a sua existência enquanto estrutura, sem qualquer interesse para lá da manutenção dessa mesma estrutura);

b) vai acabar por falta de utilidade, excesso de custos de manutenção e inoperacionalidade perante o mais simples dos problemas, restando apenas um acordo sobre trocas comerciais para que não digam que acabou tudo em pó, sem deixar rasto.

Mas até que isso aconteça, ainda há muito Durão Barroso, Olli Rehn ou van Rompuy para alimentar (o bolso) e, por isso, os meus amigos ainda vão ter que levar com mais uns anitos de cimeiras inúteis, acordos para não cumprir, promessas irrealizáveis e burocracia desnecessária e estapafúrdia. Todos estes esclarecimentos, um dia, irão ver a luz da noite num dos tomos das minhas memórias, onde demonstrarei a quem me quiser ler, que as instituições mais relevantes da Europa são o Interrail e o Programa Erasmus. O Interrail porque a ele se deveu o facto de pela primeira vez na vida ter dormido na rua. E o Erasmus porque me permitiu estrear-me em fornicadelas internacionais, embrulhando-me com uma irlandesa da qual, às vezes, ainda me lembro, depois de tantos anos passados.


[dada a importância do momento, espeto aqui um interlúdio epistemológico em tons cor-de-rosa]

Mulher do Arroja: Ó Pedro, olha as torradas que já está a cheirar a fumo!

Arroja: Não são torradas, sou eu que estou a pensar... concluí que a escrita do maradona é muito feminina.


Mas é sobre burocracia desnecessária e parva que eu hoje quero mostrar aqui os meus dotes de analista capaz de perceber os problemas internacionais como deve ser, embora sem paciência para ir à TV explicar as coisas às pessoas. Estava eu a ler online um jornal que nem sequer faz parte das minha leituras regulares e deparo-me com esta notícia.

Sendo informação vinda de Bruxelas, não cometi a displicência de achar que se tratava de uma brincadeira de carnaval ou uma mentira do dia 1 de Abril em Novembro. A EU já nos habituou a notícias destas que são mesmo para levar a sério, por serem mesmo verdade. Estou-me a lembrar que a uniformização das matrículas dos automóveis, por exemplo, começou por suscitar gozo e… uns anos mais tarde, aí estava ela. Tal como a proibição de favas no bolo-rei também pareceu uma peta de 1 de Abril e depois veio mesmo a ser verdade. A estratégia é sempre a mesma: lança-se o disparate, espera-se uns tempos até que as pessoas se habituem a ele, e depois, quando a malta já estiver entretida com outra coisa, publica-se a lei e toca a cumprir se quiserem continuar a receber o subsidio.

A EU é composta por uma quantidade de ursos inúteis, cuja função é usarem os pequeninos cérebros que possuem, para parir ideias que mais não servem que justificar o salário desses mesmos inúteis e chagar as outras pessoas. Kafka, para lá de ter sonhado que acordava insecto, também sonhou que seria cidadão da EU, essa da bandeirinha azul com estrelinhas amarelas.

Agora são os livros dos cinco e toda a literatura infantil que refira modelos de famílias felizes. Faz-me lembrar um daqueles idiotas LGBT que um dia vi a dizer que a ficção portuguesa devia ser obrigada a incluir todos os tipos de famílias e de comportamentos sexuais para que isso servisse o combate contra a descriminação. Nem liguei muito, achei que ele se estava a oferecer para guionista de telenovelas, mas parece que não: estava mesmo a falar a sério.

Esta inútil EU, que não foi, nos últimos 20 anos, capaz de resolver um único problema politico, financeiro, militar etc. é a mesma que cada vez gasta mais dinheiro para se sustentar e cujo comportamento cada vez mais se distancia das necessidades dos europeus, esses que vivem e sobrevivem nalguns países aos quais saiu a fava de serem governados por cérebros como Sócrates, Merkel, Zapatero, Berlusconi, Rajoy, Sarkozy, Passos Coelho, etc., os nomes poderiam ser muitos porque a tralha é imensa. Agora até querem acabar com o programa Erasmus. Eu sei que o programa Erasmus poderá ser caro, mas não tenham dúvidas que é uma forma muito eficaz de muita gente abrir a pestana, sobretudo percebendo que na Europa os países (e os traseiros das gajas) são muito diferentes e é dessa diferença, que os burocratas bruxelenses odeiam, que a Europa se faz.

É preciso ter um cérebro preenchido com caca de galinha e uma visão que não alcance mais do que 15 cm à frente do nariz, para se lembrar que a porra dos livros para crianças deverá, por obrigação, incluir o ultimo grito da moda em matéria de experimentalismo social, só porque é politicamente correcto dar vazão a todo o tipo de ideias, venham elas de onde vieram, tenham elas a utilidade que tiverem. O ideal de história infantil para esses luminosos pensadores será qualquer coisa deste tipo:


Os Cinco Resgatam a Criança


João, Adérito e Bruninho são três homens que têm uma relação poliamorista homossexual. Vivem também com o Cláudio – filho biológico do João e de uma prostituta de quem ele em tempos foi chulo. Essa prostituta esconde Cláudio para fugir com ele para Bali, local para onde quer ir viver com um ex-cliente agarrado à coca, depois de ter decidido deixar a prostituição. Os cinco descobrem onde está a criança e informam a polícia que retira a criança à ex-porstituta e a entrega a uma família de acolhimento constituída por um alcoólico que vive do RSI e uma empregada de limpeza, cuja actividade principal é apanhar porrada do marido depois de ter andado o dia inteiro a trabalhar para o ajudar no pagamento da conta da taberna onde ele passa o dia inteiro a consumir uma bebida alcoólica feita a partir de uvas. Por fim, a mãe da Zé aceita acolher o Cláudio e os cinco ficam todos muito contentes porque o Cláudio adora brincar com o Tim.


Digam lá que não era uma grande malha. Se eu escrevesse este livro, tornar-me-ia o sucesso da pequenada. Mas eu não quero. O meu sonho agora é ser uma escritora suburbana, que escreva livros para sopeiras sobre taradices sexuais e vender muitos livros, fazer tournées, receber jornalistas nas suites de hotéis caros e dar peidos baixinho só para os chatear com o cheiro, e poder mandar pó caralho quem me apetece apenas por ser um escritor que vende muito.

Vou preparar as minhas calças de chuva; tenho um torneio amanhã.

21 de novembro de 2012

Gostei tanto de ler este livro que até me doeu saber que em tempos ele esteve à venda a uns metros de distância dos "livros" da Rita Ferro


Sei que posso ser acusado de não cumprir o meu dever, ao publicar muitos posts de imagens e com poucas palavras. Mas é assim a vida:  compenso-vos em breve, assim que possa.

17 de novembro de 2012

Enfiar carapuças nunca foi o meu género, não é que eu seja cabeçudo e elas não me sirvam, mas gosto de ser eu a escolher os chapéus que uso

Hoje, o gajo da UPS trouxe-me o pacote semanal da Amazon onde vinha isto




o que seria motivo suficiente para eu passar esta noite de chuva, bem entretido ao pé da minha lareira imaginária, fazendo o trabalho preliminar que é o de definir uma estratégia de ataque ao meu brinquedo novo, apontando por onde começar, lendo parágrafos, saltando páginas aleatoriamente, enfim, fazendo o trabalho de preparação que estas 630 páginas merecem, para de seguida serem tratadas com o devido respeito. Para os que não sabem, é assim que se lê um livro de filosofia. Para os que sabem, este é um livro de filosofia. Para os que julgam que sabem, a filosofia não morreu e todos esses idiotas que decretam a morte disto e daquilo não passam de cangalheiros maus profissionais que nem conseguem ver se um gajo está morto antes de o enterrarem. Passo à frente do facto de ler em inglês um texto escrito em alemão; já vos disse que escusam de ver em mim um poço de virtudes. Tenho as minhas falhas: sempre fui mau em matraquilhos e o meu alemão não dá para ler convenientemente textos à séria como este.

Mas há uma coisinha – e este meu uso da horrível palavra coisinha tem um propósito – que o alf disse no seu último ensaio e que me fez pousar o livro e vir aqui partilhar convosco umas merdas (tenho que repensar esta minha expressão “partilhar umas merdas”, eu sei, mas até que eu encontre melhor forma para dizer o que faço aqui, irei insistir com esta caracterização da minha actividade no blog: partilhar umas merdas).


Na verdade, as pessoas de bem estão mesmo convencidas de que quando um gajo diz, por exemplo, este livro é uma merda, ou esta gaja não sabe escrever, está a manifestar biliosamente uma incontrolável inveja, nada mais restando a esse pobre gajo, com olhos injetados de sangue, a boca seca, e os dedos retorcidos, entregar-se à combustão da sua raiva pelo facto do mundo dos factos devidamente alinhados pela ordem natural das coisas não ter priveligiado o ressentido com um livro publicado...

alf, 16 de Novembro de 2012, 21:28, num post intitulado “Crítica da faculdade de mandar para o caralho quem eu quiser”, post esse que arranca de forma magistral com duas epígrafes de dois talentosos pensadores, cuja carreira não se faz nesses vãos de escada do pensamento que são as academias ou os almoços das redacções de jornais.


Pois bem, quando se cita, não se cita apenas para se dizer que se concorda. Cita-se porque se quer partir daí, concordando ou não. Neste caso, em concordância com o fundamental da frase do alf, avanço para o terreno, para mim nada movediço, que é o de utilizar argumentos de vária ordem que demonstrem claramente que uma pessoa pode dizer mal de um livro , de uma banda, de um filme, etc. não porque seja um Obélix a acartar um menir de ódio e intransigência, mas sim porque esse livro, banda, filme, etc. sejam mesmo maus, desinteressantes, chatos e que, para bem de todos nós, deviam ir:

a) para a cona da prima;

b) para o caralho que os foda;

(o leitor que escolha)

Anos e anos de lengalengas e mitologias de psicologia social, ou lá como é que essas tretas se chamam, deram origem a um estatuto de aparente verdade a essa teoria oca e medíocre que consiste em dizer que quem critica, é ressabiado, invejoso, tem mau perder, mija na cama e não coloca os plásticos no contentor da reciclagem dedicado às embalagens. Completamente incapacitados de pararem para pensar sobre a verborreia que espalham, esse psicólogos sociais (ou socialistas?) nem dão conta que uma pessoa, de bem ou de mal, pode criticar uma coisinha por razões que radiquem nessa coisinha ou na relação que a pessoa tem com essa coisinha e não porque se acham o melhor da praceta só por se atirarem ao autor da coisinha. Que é que quer dizer essa parvoíce de que “os portugueses só sabem falar mal”? Teorema central do pré-fabricado intelectual dessa seita que acha que sabe o que é isso de ser português. Não quer dizer nada: se uma pessoa tem absolutamente claro para si que um livro é uma bosta, porque é que não o deve dizer sem que as outras pessoas entendam que essa pessoa disse que o livro é uma bosta por outra razão qualquer?

É com base nesse pressuposto de TAT (Teoria da Aceitação de Tudo) – teoria que eu acabei agora de descobrir e cuja demonstração publicarei quando tiver tempo – que cabeças como a do alf ou a minha tiveram que levar com as escrituras de certo tipo de escritores, num sítio a que a grande maioria das pessoas chama escola. Tivesse toda a gente, desde o início, cumprido o seu papel com competência, dizendo o que entendiam sinceramente acerca do assunto, e essas bolas de neve nunca teriam crescido a ponto de termos que levar com elas em cima das nossas cabeças. Mas o palmadismo nas costas tem destas coisinhas: faz carreiras. E bem fodido está quem tiver que levar com elas.

14 de novembro de 2012

Há pessoas que confundem a biblioteca de Alexandria com a biblioteca da Alexandrina



Pior do que aqueles que confundem as coisas porque não são capazes de as entender, são os que as confundem de propósito para daí tirarem dividendos. Baralhar e voltar a dar, ou dividir para reinar, ou tudo ao molho e fé em Deus, ou ainda, e para terminar esta intro, çafoda queu quero é questa merda vá toda pó caralho.

O tema deste meu ensaio, para lá de mais uma vez mostrar a quem por aqui passa a minha disponibilidade para ocupar o meu tempo com assuntos de índole cultural, é elevar a um patamar de intemporalidade o conceito de confusão e desenvolvê-lo enquanto categoria filosófica, a mais substancial categoria filosófica do nosso tempo, um tempo incerto e nebuloso, como já terão constatado todos aqueles que olham para as montras das livrarias. Esta minha contribuição dá um passo em frente e avança com o tema a partir dos prolegómenos publicados pelo alf, num post que em boa hora intitulou de barafunda. Prova provada e certificada de que ambos temos a percepção daquilo que interessa realmente e somos suficientemente bondosos para partilhar com todos aqueles que seguem os nossos sermões, alguma da sapiência que possuímos e de que a humanidade tanto precisa.

Sendo eu uma pessoa extremamente sincera, não posso prosseguir o meu ensaio sem assumir desde logo, perante todos vós, meus estimados leitores, que também faço as minhas confusões. Este acto credibiliza-me e não tenho problema nenhum em revelá-lo. Assumo sem problemas: confundo os The Walkmen com os The National, mas calma, isso não me importa nada porque se trata de duas bandas igualmente aborrecidas e merdosas. Também confundo Sónias com Sandras e isso também não me preocupa porque conheço poucas e não há probabilidade de essa confusão vir a dar algum mal-entendido, daqueles em que a minha vida não literária tem sido pródiga.

Alerta-me o alf para uma questão deveras pertinente sobre os títulos de alguns dos livros que saltitam como cavalinhos de um carrossel, nesta feira que é o mundo literário português (metáfora fraquinha, eu sei, mas é para vocês também perceberem as minhas fragilidades, para que me vejam como um dos vossos e não apenas como um gajo que leva uma vida de sonho que é jogar golfe, ler livros e orientar umas gajas). Pois respondo ao alf que mais facilmente compraria um livro chamado Para o Caralho e Não Para a Cona da Tua Mãe do que um que se chame Para Cima e Não Para Norte. Duvidam? Comprei o Discurso Sobre o Filho da Puta do Alberto Pimenta por causa do título, quando ainda nem fazia a mínima ideia de quem era o Alberto Pimenta. E quanto ao No Meu Peito não Cabem Pássaros, já estou a pensar chamar no Meu Meu Bolso Não Cabe o iPhone 5 a um dos contos que ando a escrever: a história de um gajo que fode um iPhone 5, apenas com uma semana, atirando-o para a linha na estação de Caxias, quando recebe um SMS da namorada que está a fazer um MBA em Londres, dizendo: “Olha, quando chegar a Lisboa temos que falar.” Dirão vocês, foda-se este Paddock lembra-se de cada merda, deve ir longe com estas estórias, deve, deve. Esclareço-vos que isto não é fruto da imaginação; passou-se algo parecido comigo, e só não mandei um iPhone para o caralho pela simples razão que ainda não havia iPhones e também porque tive a lucidez de não lixar o Nokia que tinha na altura.

Mas voltemos ao conceito de confusão, prestando atenção ao exemplo de duas pessoas a todos os títulos inolvidáveis, Jorge Jesus e Cavaco Silva, que eu tomo a liberdade de associar no mesmo ensaio por entender que ambos partilham o mesmo problema: são não euclidianos num mundo em que toda a gente se rege pela geometria euclidiana. Mais ou menos o mesmo que seria conduzir pela direita em Inglaterra. E é isso que faz deles pessoas incompreendidas quando exprimem o seu saber em conferências de imprensa ou em posts do Facebook. Vejam bem, Jorge Jesus, um não euclidiano originário da Amadora, com vasta experiência nos postulados da geometria não euclidiana, como despachar o Ronaldinho Gaúcho por achar que aquilo era “fintinha a mais”. Esse mesmo Jorge Jesus propôs um dia a dois centrais e a um trinco que “os três fizessem um quadrado”. Bem sei que um dos centrais era o Luisão, outro não euclidiano que, precisamente por isso, conseguiu atirar um árbitro ao chão “sem lhe tocar”, mas mesmo assim um quadrado com três não parece fácil. Estas coisas, até para mim que tento pensar sobre o que o Vítor Gaspar diz, são muito complicadas. E dizer que a bandeira estava ao contrário implica saber de que lado fica o verde. Acham que quem não sabe quantos cantos têm os Lusíadas sabe de que lado fica o verde da bandeira portuguesa? E se perguntarem ao Jorge Jesus quanto cantos têm os Lusíadas a resposta dele será: “é 4 mas ê sou capaz de fazer um quadrado só com três jeeeegadores”.

Ou seja, isto é tudo muito confuso. No fundo, o que importa é que sejamos capazes de nos concentrarmos no essencial, mesmo não fazendo a mínima ideia de que é no essencial que radica a possibilidade do acessório, o quer que isso queira dizer (os ensaios filosóficos devem terminar de forma enigmática para serem considerados bons). Neste admirável mundo literário, frequentado por todo o tipo de escritores, incluindo escritores portugueses que estão dispostos a ir ao Brasil fazer leituras públicas em festivais literários, o livro é sempre cultura e se há coisa que fica mal nas pessoas de bem é desprezar a cultura. Viva a cultura, viva!

11 de novembro de 2012

Não é meia-noite quem quer nem é culto quem não recebe subsídio



Luís Miguel Cintra, um culto, diz que a sua companhia de teatro pode acabar porque o estado não lhe dá o apoio que ele acha que merece. Se é apenas chantagem ou não, pouco importa. Não sei se já há petições mas, se ainda não houver, devem vir a caminho: não percam a oportunidade de peticionar. Peticionem, peticionem que a peticionar é que a gente se entende. A malta da “cultura” goza de privilégios a que mais ninguém tem acesso, nomeadamente o de receberem apoios do estado sem terem que prestar contas efectivas disso. Não aceitam como critério de avaliação do seu trabalho o número de espectadores, muito menos serem avaliados por alguém além deles próprios. Nos últimos 40 anos a companhia deste culto recebeu milhões de euros a fundo perdido e, se posso fazer a pergunta, no que é que isso se traduziu de relevante para a cultura portuguesa? O teatro em Portugal está desenvolvido, prestigiado, valorizado, premiado, etc. devido às actividades da Cornucópia? Não consta. No meu caso, as duas ou três vezes que lá fui assistir a peças, por causa dos autores das mesmas, saí de lá com a sensação de que aquilo é do mais bafiento, datado e retrógrado que há. Fazem há uma data de anos o mesmo espectáculo, monótono e ensimesmado, onde mudam apenas algumas peças do cenário. Parece que ali o relógio parou. Vão mudando também alguns actores. Por falar em actores, dando gás a uma inigualável capacidade de ser hipócrita, Cintra afirmou há uns tempos que não trabalha com actores que façam telenovelas. Vejamos bem: um actor faz uma telenovela para ganhar dinheiro de modo a pagar as contas ao fim do mês, uma vez que não recebe subsídios do estado como o Cintra e, apenas por isso, vai para a lista negra do Cintra, ficando marcado mesmo que seja bom profissional. Cintra ainda não se apercebeu que o dinheiro das telenovelas é ate capaz de ser um bocadinho mais, digamos assim, esforçado que o que ele ganha: nas telenovelas o dinheiro vem de quem paga por isso, na Cornucópia vem do estado que alinha nisso. A Cintra não passa pela cabeça tentar outras fontes de financiamento: no seu programa artístico-politico, mais político do que artístico, deve ser o estado a subsidiar a cultura, ponto final, não se fala mais sobre o assunto. Pouco importa que se estejam a financiar espectáculos com médias de assistência irrisórias, sem qualquer relevância artística, estética, etc. Da última vez que lá estive, eram cinco pessoas na sala; no fim ninguém bateu palmas, pudera, uma xaropada daquelas era difícil de aplaudir. A trupe do Cintra também tem umas ideias prontas sobre as assistências na sala: as pessoas não vão porque não percebem a genialidade do que ali se apresenta. Como a legitimidade do seu trabalho é conferida pelos próprios, está tudo bem e não há que mudar nada no que fazem, à excepção de reclamar um aumento no subsídio anual.

Invocar a palavra cultura é um free-pass para a obtenção de subsídios e estatuto social. Não tenho nada contra, desde que não o façam à custa do orçamento. Bem podem apontar o dedo a quem questione todo este mecanismo: passará logo para o saco dos liberais, ignorantes e egoístas. Por mim, tudo bem. Leio o texto que me dá mais gozo.

7 de novembro de 2012

Informo os que me conhecem e se interessam por mim – poucos, eu sei – que, apesar do tom deste post, está tudo bem comigo, tirando um bocadito de tosse que deve ser do frio dos últimos dias


Missing Link #1 - O Peter Hook vai tocar o Unknown Pleasures mais ou menos à mesma hora que o Sporting defronta o Genk e eu não vou nem a um nem a outro. Podia escrever um tratado sobre a minha ausência em ambos os eventos, como se diz. Mas não vou fazer isso, sobretudo porque não uso o blog para fazer psicologismos com coisas sérias. Todo este 1X2 do Obama/Romney são peanuts ao pé da importância do Unknown Pleasures, para mim e para o mundo civilizado. E do Sporting só voltarei a falar quando ganharmos um jogo.

Missing Link #2 - O Ouriquense fez-me um simpático elogio – a mim que não voltei a Ourique desde que há a A2 - e acertou: não tenho Facebook nem Twitter.

Coincidências são apenas coincidências. Nada mais.

4 de novembro de 2012

Crisólogos


A pedido de várias famílias – quer dizer, não foram várias, foi apenas uma pessoa que me enviou um mail – volto a publicar um estudo na área da etologia que fiz há uns tempos atrás, sem recurso a bolsa da FCT. Trata-se de uma investigação que me levou à certificação da existência de uma nova profissão em Portugal: o crisólogo.

Crisólogo FAQ

O que é um crisólogo?

É um indivíduo que julga saber tudo sobre a crise. Desenvolve inúmeros argumentos acerca das causas e diz muitas coisas acerca das soluções. Fala sempre como se estivesse 100% convicto daquilo que diz.


Os crisólogos são todos da mesma cor politica?

Não. Há crisólogos de esquerda, os que invariavelmente culpam o neo-liberalismo e o sistema financeiro internacional da crise. E há os de direita que atribuem as culpas todas ao estado social e à gratuitidade de alguns serviços públicos.


Os crisólogos são pagos?

Alguns são. Há crisólogos que se fazem pagar a peso de ouro por intervenções de meia-hora em universidades até aos que apenas escrevem em blogs e até são eles que pagam a conta da net para publicarem as babuseiras que lhes vêm à cabeça.


As soluções propostas pelos crisólogos são exequíveis?

Muito raramente. A grande maioria das soluções apresentadas pelos crisólogos, quer de esquerda, quer de direita, se fossem aplicadas, ainda deixariam a situação pior do que ela está.


O que é que um crisólogo mais teme?

Ser confrontado com a realidade. O crisólogo tem uma construção mental e de nada lhe interessa que o que diz não tenha o menor ligação ao mundo onde as pessoas habitam.


Os crisólogos têm todos a mesma prática?

Não. Há desde os crisólogos-algazarra que são os que falam e quando chega à vez dos outros falarem interrompem-nos constantemente para que não se entenda o que eles dizem (Joana Amaral Dias). Há os crisólogos-eminência que falam como se estivessem a prestar um favor às pessoas por estar ali a explicar a sua sapiência (Miguel Sousa Tavares). Há os crisólogos-carteiro que mais não fazem do que repetir aquilo que o seu partido defende (todos os do PCP). Há os crisólogos-engraçadinhos que, frase sim, frase não, metem uma piada, sem piada nenhuma, sobre o assunto (idiotas do Eixo do Mal). Há os crisólogos-excel que colocam dois números e uma estatística em cada frase (os chatos do Blasfémias).


Deve uma pessoa, no seu perfeito juízo, ouvir os crisólogos?

Se não tiver nada para fazer pode ouvir, nalguns casos é até divertido. Ana Drago (esquerda) e o filho do Luís Filipe Menezes (direita) são dois crisólogos que, com a capacidade de dizer parvoíces que têm, até podem divertir quem os ouve. Se tiver outras coisas para fazer, deve fazê-las que não perde nada em não os ouvir.


A nível internacional os crisólogos actuam da mesma maneira?

Quanto mais terceiro-mundista é o pais mais incipiente é o crisólogo. É possível ver um crisólogo em Inglaterra a falar de economia sabendo o que é gerir, ou a falar de filosofia sabendo o que é um conceito. Em Portugal o nível é fraquíssimo e é frequente depararmo-nos com Clara Ferreira Alves a falar de economia ou Alberto João Jardim a falar de filosofia, situações que, tanto uma como outra, de tão tristes, nem para rir dá.


Crisólogo já é mesmo profissão?

Ainda não há código para recibos verdes enquanto crisólogo. Ate lá registe-se como jornalista, professor ou advogado.


O crisólogo é ele próprio coerente com o que diz?

Raramente. É normal um crisólogo de esquerda sair da TV e ir jantar à Bica do Sapato. Assim como é possível ver um de direita enfiar o seu jeep BMW nas filas de trânsito para a Costa, carregado de iogurtes e sandes para almoçar na praia. António Carrapatoso (direita) veio defender o aumento de impostos na semana em que se soube que tinha processos por incumprimento fiscal na ordem dos 700 mil euros, por exemplo.


Tenho um filho que quer ser crisólogo. Que devo fazer?

Demova-o. Se não for suficiente, faça chantagem com a redução da mesada e as saídas à noite. Se tal não chegar, recorra à ameaça de violência física, reforçando sempre a ideia de que um crisólogo seria uma vergonha na família, pior do que adolescente grávida.


Há algo de positivo nos crisólogos?

Se estiver mesmo sem nada para fazer, pode gastar 10 minutos a ouvi-los, com o propósito de se divertir com as bacuradas que eles debitam. Carlos Abreu Amorim (direita) e Fernando Rosas (esquerda) são dois exemplos de indigência mental que só pode servir para fazer rir.


Estive demasiado tempo exposto às ideias de crisólogos. Que devo fazer?

Primeiro, deve parar imediatamente de os ouvir. De seguida, leia, ouça música, veja um filme, passeie e nos próximos tempos procure esquecer tudo o que eles disseram.


Apesar de tudo quero mesmo ser crisólogo. Que posso fazer?

Tenha Juízo. Vá para o jardim dar comida aos pássaros que dará um melhor contributo para a sociedade.

3 de novembro de 2012

Mudam-se as pessoas, muda-se a música, mudam-se os chapéus


Nos oitentas Lawrence dirigia os Felt e fazia música superior. Usava chapéus decentes e falava muito pouco. Hoje usa uns bonés de basebol – “There's no more distressing sight than that of an englishman in a baseball cap”, frase sábia de Pete Doherty – e lidera os Go Kart Mozart, banda sofrível. Mas tudo bem. A quem fez isto perdoa-se tudo: